Quando eu era adolescente e fazia coleção de papel de carta a gente esperava muito.
Esperava chegar modelo novo na papelaria, esperava juntar a mesada ou uns trocos do lanche para aumentar a coleção.
Esperava a folga das aulas para organizar minuciosamente a pasta catálogo. A posição de cada papel, qual iria do lado do outro, o tema e as cores.
E, enfim, quando já estavam devidamente catalogados chegava a hora da difícil tarefa de escolher um deles para sair. Ganhava vida e virava carta de verdade. Endereçada a prima distante ou uma amiga que havia ficado numa das muitas cidades vividas (coisas de filha de bancário).
Escrevia a lápis para poder corrigir e esperava passar tudo a caneta com a letra mais bonita para oficializar as histórias de um tempo de tanta inocência.
E, então, começava uma nova espera: A da carta de resposta. Que ansiedade boa conferir a caixa de correio todo o dia. Até que ela chegava. Num papel tão bonito como o enviado ou ainda mais.
Muitas vezes tinha cheiro e dava a sensação de que aquele era o perfume de quem escreveu. E recomeçávamos tudo de novo, agora com as mãos perfumadas.
A gente sabia esperar.